O SILÊNCIO NO DIVÄ
A identificação, nos constitui muito mais como sujeitos do que possamos imaginar, bem como seu papel na vida em sociedade e a sua influência perante a identidade grupal. Seu exercício é a prova de que nos alicerçamos em algo ou alguém único e indescritível para muitos, que chamamos de Deus, Universo etc.; seja qual for a nomenclatura, certamente temos a ânsia em descobri-lo, mas até não obtermos a confirmação predomina nosso imaginário: o pai, o todo poderoso, o onipotente...
É inato dos seres humanos nascerem para a evolução, porém toda evolução demanda perdas e ganhos, fato extremamente conflitante com o “princípio do prazer” postulado por Freud. Nascemos para o prazer, porém com a pulsão de evoluirmos como espécie, aprendemos que necessitamos de “modelos”. Ora, se tal modelo é necessitado, logo temos que buscá-lo fora, no outro, ao contrário do que prega Lacan, de encontrarmos no Outro, ou seja, dentro de nós um novo saber.
As sessões de análise se estabelecem na busca pelo Outro, ou seja, por nós, por meio do silêncio. Buscar o silêncio realmente não é simples, é enlouquecedor, é mortificante, é a realização de um desejo. Nossa vida cotidiana se estabelece por vínculos infindáveis, da procura pela não solidão, da não aceitação do silêncio a fim de evitarmos o enfrentamento de nosso próprio Eu. O que será à procura de um “modelo identificatório” no outro, se não o deslocamento da identidade que fantasiamos? E a real identidade e o real Eu, como encontrar?
A ânsia incessante por finais de semana repletos de som alto regados a cerveja e muita gente ao lado afirmando a condição de ser humano egoicamente inflado, de festas intermináveis com consumos excessivos de psicoativos a fim de “aliviar o stress” causado pela semana, o que será essa ânsia se não a autopunição por conteúdos internos que não podem ser enfrentado em nível satisfatório de consciência? E depois de tudo chegamos em casa e nos deparamos com uma grande e bela televisão que nos manda ficar calados e se não bastasse, nos impõe idéias sem que tenhamos consciência de questionamentos para que possamos exercer uma escolha, e novamente a turbulência tanto querida para evitar a própria existência.
A única forma de nos voltarmos para dentro, de descobrirmos a nossa verdadeira identidade sem que tenhamos um molde para deslocarmos nossa “maneira real de ser” e evitarmos nossos próprios conteúdos, é em análise. O silêncio que procuramos e normalmente encontramos no divã, talvez seja o caminho mais adequado para encontrar a Magia Inconsciente, não em outro sujeito, mas em nós mesmos.
*Psicólogo clinico de orientação psicanalítica (CRP 12/07475).